Entrou um pouco relutante naquele gabinete, pois estar na presença de Onoki ainda o incomodava algo. Sempre que olhava o novo líder de Konoha, as únicas coisas que conseguia pensar certo eram a morte de Yukito, a fuga de Tatsuo e o ataque ao hospital. Mas como um bom shinobi, não demonstraria o seu abalo ou incerteza. Continuava a servir a terra natal e fora por isso que naquele dia de céu limpo, ao meio dia, que regressou ao gabinete depois de uma convocatória.

- Oh, Katayo... - Anunciava o líder, assim que o S.Chunnin adentrava a sala pequena onde raramente se via Onoki. Ouvira dizer que a maior partes das vezes eram os secretários que passavam as missões. Seria aquele convite para ir ali algo de sério? - Chegaste bem na hora.

- O meu dever enquanto ninja de Konoha assim o exige. - Afirmou, sem muitas expressão, mas tentando não se mostrar demasiado carrancudo. - Tem algo para mim?

- Tenho sim. - Começou a mexer entre a papelada e retirou um pergaminho de cor azul escura, polido e brilhante, como acabado de ser pintado e selado. Colocou-o em cima da mesa e depois de uma pequena pausa, o Aburame decidiu avançar e pega-lo em mãos.

- Temos tido novos problemas com essa organização, Fiora. - Dizia, levantando-se da cadeira. - Ouvi dizer que estão a atacar actualmente uma vila aqui perto. Quero-te destacar para seguir para lá e liderar a defesa. Não temos muitos shinobis disponíveis e por isso terei que te levar na frente, até que mais reforços lá consigam chegar.

>>Fiora novamente... Eles tem de pagar...<< - Pensou, quando agarrou o pergaminho com força e voltou a olhar para o Hokage. - Considere feito. Não deixarei que Fiora coloque mais gente daquela vila em perigo. Partirei o mais breve possível. - E nada mais lhe disse até sair pela porta onde à segundos antes entrara também. Considerava muito mais produtivo e significativo para si cumprir aquela missão que tratar de burocracias com aquele novo kage do qual não gostava nem um pouco.

O local não ficava muito distante da própria vila oculta, talvez uns 2 quilómetros pelos cálculos por alto do jovem Chunnin. Por isso a viagem não deu para cansar realmente e nem deixou o rapaz num estado em que não pudesse agir logo. Isso era bom, pois uma missão de tal calibre necessita de uma mão firme e rápida para actuar, ou poderia ter tudo a perder.

No caminho teve de mudar de trajectória duas vezes, pois no meio de descampado, ou enfiados em clareiras, várias pessoas, ninjas sem bandanas, estavam acampados e a preparar-se com kunais, shurikens e outras armas shinobi. Katayo não os considerou aldeões da vila atacada, pois estavam afastados demais das muralhas e das casas para ser eles. Só queria dizer uma coisa: Tratava-se de escumalha de Fiora. Antes de se afastar, estudou muito bem alguns deles para ver com o que se poderia deparar, mas uma visão de longe não indicava quase nada sobre a força ou habilidades do que estaria para vir. Por isso o perigo e a vigilância do Aburame teria de ser duplicada, se não triplicada. Estava sozinho naquilo, pelo menos até Onoki se lembrar de trazer mais reforços para o ajudar a repelir de vez aquele pequeno grupo invasor.

Esgueirou-se por entre as árvores, distante demais dos inimigos para ser percebido e deu a volta para tentar alcançar as muralhas improvisadas que a pequena aldeia construiu contra os ataques. Num salto habilidoso ficou em cima das mesmas e conseguiu ter uma visão de como todo o local estava. Existiam pelo menos quatro casas ardidas, algumas crateras de ataques fracos, mas nada que assustasse ao olhar. Quem parecia ter apanhado um susto quando viu Katayo a subir a muralha foi um homem de meia idade, pequeno e de bigode que segurava uma pá de cavar, lá em baixo, perto da zona interior da parede improvisada.

- Calma, não tenha medo. - Desceu para o interior com as mãos no alto para não comprometer as suas palavras com acções que o pudessem deixar receoso. Apontou apenas levemente com a direita para a bandana na testa. - Sou Katayo e fui enviado de Konoha para me assegurar que esta vila é protegida dos ataques de Fiora.

- K...Konoha?! - Via-se claramente um rasto de esperança na cara do pobre aldeão. Caiu de joelhos desesperado. - Finalmente... finalmente... pensava que a Vila Oculta da Folha se tinha esquecido de nós e que estávamos condenados... - Levantou a cara, mas continuou de joelhos no chão e as mãos a segurar a terra batida. - Fiora tem aterrorizado as nossas casas à já quase um dia. Eles não são muitos, mas são shinobis e nós aldeões. Não temos força para segurar os ataques mais tempo.

- Vou fazer tudo o que puder senhor. - O Chunnin avançou e ofereceu-se para ajuda-lo a levantar-se. - Até que os reforços de Konoha cheguem, eu vou tentar manter as barreiras sólidas para que eles não tomem este local.

- Mas tu és só um... - Parou de falar. - Peço perdão, não devo subestimar-te, mas eles são um bando. Penso que é lógico que estás em plena desvantagem.

- Eu sei. Mas esse é o meu dever e esta a minha missão.

- Nesse caso eu vou levar-te até aos outros. Temos de aproveitar enquanto Fiora não prossegue com o próximo ataque. Já agora o meu nome é Taris e sou o líder da minha aldeia, Rosh.

Entrando pelo meio das ruas, Katayo foi levado ao centro, onde estava uma fonte redonda com uma estátua de uma mulher de seios à mostra a deixar água pela jarra que segurava delicadamente em mãos. O líquido era brilhante e límpido à luz do sol. Perto dela estavam mais 5 homens, todos com aspecto idêntico ao primeiro e até mesmo algumas feridas e ligaduras cobriam partes dos seus corpos, decerto, lembranças dos últimos confrontos. Taris levou-o entre todos eles, de olhos postos e prontos para ouvir quem era o jovem rapaz.

- Quem trago comigo é Katayo, um enviado de Konohagakure. - Ouviu-se alguns murmúrios entre eles. - Ele diz que a vila oculta está a preparar reforços para expulsar Fiora das nossas terras.

- E onde estão esses reforços Katayo?! - Ouviu um deles gritar, mas também outras vozes se sobrepuseram.

- Konoha mandou só um jovem... meu deus... - Ouviu outro falar baixo, mas suficiente para os seus ouvidos.

- Já não à esperança. Rosh cairá ainda hoje. - Comentou um outro cheio de desgosto. O Aburame chegou-se à frente. Estava nervoso por ter tantos olhos postos nele, mas tinha de ser forte, por todos aqueles que não eram ninjas como ele.

- Posso ser jovem e ter sido o primeiro aqui a chegar, mas conseguirei repelir a Fiora até que os meus colegas cheguem. Não podemos perder a esperança. - Nesse momento um velho de cabelo branco aproximou-se dele. Trazia uma faixa da cor da cabeleira e manchada de vermelho atada na testa.

- Rapaz, Rosh está cheia de velhos, crianças e os poucos jovens que temos, não são treinados para o combate. Somos agricultores, fazendeiros, artesãos e escritores, nada mais. - Possuía tristeza no olhar quando o voltou a encarar. - A culpa disto é toda minha...

- Jormund...

- Não! A culpa é mesmo minha... Se não fosse pelos meus pergaminhos, Fiora não estava a atormentar a minha aldeia e o meu povo. Mas eu andei a investigar coisas, curioso como sou e em vez de fugir daqui para vos manter em segurança, fiquei e agora estamos a ser atormentados e a Vila dos Ninjas trazem para cá um rapaz apenas. - Virou as costas a Katayo. - Se fosse a ti ia-me embora jovem. Ainda tens a vida pela frente, tempo demais para te preocupares com meia dúzia de indefesos camponeses.

- Taris, o melhor se calhar é mesmo partir. - Acrescentava um outro homem, mais novo que o líder da cidade. - Podemos reconstruir tudo o que temos aqui noutro local. Se fugir-mos já, quando o inimigo está em repouso, poupamos vidas, mais do que aquelas que poupamos a continuar aqui.

- Eu não sou uma pessoa de desistir, nem mesmo quando tudo parece perdido. - O grupo olhou-o. - Sinto-me seguro em ser o único contra aquele grupo todo? Não, confesso que não. Mas se lutar, ganho tempo, tempo esse que pode ser crucial para que reforços cheguem e Fiora deixe Rosh em paz de uma vez por todas. Se quiserem estão à vontade para partir, mas eu não vou deixar que a aldeia seja tomada, com ou sem os seus aldeões cá.

- E porque fazes isso Katayo? - Perguntava Jormund, novamente perto dele.

- Porque eu não quero ver mais ninguém morrer, se isso depender de mim. - Olhou para Taris novamente. - Eles estão a atacar de que vertente?

- Apenas de norte, de onde tu vieste.

- Coloque as pessoas em segurança a sul, o mais a sul possível. Eu ficarei à espera do momento em que eles voltarem a atacar. - E sem mais nada a dizer, o Aburame saiu de perto deles, em direcção às muralhas norte, onde teria uma visão do adversário acampado.

E uma hora mais tarde, do cimo de um cume espinhoso da muralha, o rapaz Jinchuuriki de Nanabi contemplou o grupo de Fiora avançar. Já o deviam ter visto, pois alguns riam. Katayo não quebrou, estava preparado para aquilo, desse no que desse. Ele sabia os riscos, mas também os benefícios, se calhar não para ele, mas para todos os habitantes de Rosh. Saltou e aterrou já fora da vila, avançando um pouco para ficar apenas a alguns metros dos cinco homens e rapazes que vinham das fileiras de Fiora.

- Os reforços de Konoha... Pf. - Foi tudo o que ouviu do lado deles. Não lhes respondeu, estava concentrado em possíveis movimentos. Afinal estava a lutar de cinco para um e nunca se sabia se eles tinham um bom conceito de trabalho de equipa.

Três avançaram logo e dois deles ficaram para trás, mas ao fim de algum tempo começaram também a correr. Foi estranho pois para a destreza de Katayo, os dois da frente pareciam lentos e pouco ágeis, enquanto os dois de trás rapidamente ganharam terreno e por pouco estariam à frente afinal. Quando deu por si, o Jinchuuriki também estava a correr.

Trocou alguns socos com um deles e escapou por pouco do pontapé furioso do seguinte. Os mais rápidos conseguiram chegar-se bem perto do rapaz, mas só conseguiu afastar um deles, enquanto o outro lhe dava um valente soco na face. Caiu para trás dois ou três metros, mas logo se recompôs, o grande problema é que eles já estavam ali novamente. Apressou-se com uma sequência de selos.

- Destruction Bug Ocean! - Uma nuvem de Kikais elevou-se e como um tsunami apanhou um deles que guinchos assim que foi ter ao chão coberto de bichos. Mas os restantes três mudaram de direcção e continuavam a ganhar terreno. - Reppushou! - Uma enorme pressão de ar voou em direcção a eles, enquanto os dois ágeis escaparam, o terceiro limitou-se a inspirar algum ar.

- Karyuu Endan! - Uma linha de chakra transformado em chamas foi em direcção à pressão de ar, enfraquecendo-a, ou melhor tomando partido da mesma para que fosse em direcção directa de Katayo.

- Doton Hinansho no Jutsu! - Uma barreira de pedra foi criada à frente do mesmo, impedindo que as chamas chegassem ao seu corpo. Mas dava para sentir o calor que as mesmas produziam do outro lado. Ao mesmo tempo nem conseguiu reparar que os outros dois estavam mesmo atrás de si e quando deu por tal, só conseguiu contemplar uma mão electrificada. Ainda fez uma acrobacia colocando a mão na barreira de Doton e tentando elevar o peso do corpo no ar para dar um salto, mas a mão inimiga conseguiu dar-lhe uma descarga no ombro fazendo-o cair logo de seguida. Mas um pontapé certeiro num estômago afastou novamente o inimigo.

O Doton desfez-se e Katayo estava novamente em campo aberto apenas, com dois sujeitos de um lado e o outro no oposto. Agarrava o braço ferido, por onde sangue jorrava em demasia. Estava também cansado.

>>Eles não são muito fortes, ou já me teriam morto... São apenas... demasiados.<< - Até pensar lhe custava. Reparou que outro de Fiora se juntava ao grupo e voltavam a ser cinco. - >>Eles tem alguns guerreiros de reserva, mas estão a subestimar-me, não pensam que é necessário mais de cinco de cada vez para tomar Rosh.<<

- Eu se fosse a ti desistia já. - Ao mesmo tempo que um deles anunciava tal, já outro se precipitava novamente com uma mão de raios. Atravessou o corpo de Katayo como uma lâmina bem afiada, mas não por perfurar carne e sim insectos. O bushin deixara o jovem conseguir sentar-se atrás de um tronco. O ferimento ainda jorrava, mas não se podia preocupar com ele agora. Conseguia ver ali de longe os cinco a caminharem para Rosh.

Tomando um caminho mais curto, Katayo estava novamente à frente deles, agora quase com o corpo a tocar na parede de madeira improvisada a que chamavam muralhas. O grupo riu-se mais uma vez.

- Vocês não vão passar! - Gritou o Chunnin, com toda a garganta que conseguiu. - Fiora não conseguirá nada daqui!

- Enganas-te. Fiora conseguirá tudo daqui.

- O Yukito morreu... O Tatsuo desapareceu... E tudo isso desde que Fiora apareceu. Não vou deixar que mais ninguém morra se isso depender de mim! - Sentiu que o chakra estava estranho, como se um "clic" tivesse desbloqueado algo oculto. - Esta é a minha missão e eu não deixarei que atormentem as pessoas do meu país! - Uma fraca aura carmim já o rodeada, Katayo sabia bem o que aquilo era. Mas a fúria tomara-o. Tudo o que interessava era vencer. - Agora se também querem Rosh, passem por mim! - O chakra borbulhou e tomou uma forma de asa nas suas costas. Pouco depois uma segunda rompeu do manto, como se o rapaz se estivesse a transformar num dos seus besouros.

- Hum... O Nakano vai gostar deste... Apanhe-mo-lo vivo. - E avançaram. Mas o que não esperavam é que Katayo se tivesse tornado tão rápido. Colocando as mãos no chão, um jutsu chamado Jump elevou algumas das pedras do solo que se desprenderam e voaram sem rumo ao céu e que logo após isso perderam o sustento no ar e foram em queda na direcção dos oponentes. Claro que os mesmo sentiram dificuldade em se defenderem, mas criando barreiras, ou simplesmente desviando aqui ou ali, saíram todos ilesos, excepto um, que morreu esmagado.

O chakra pareceu voltar a si e sentia-se lindamente, mesmo que o ferimento ainda lhe doesse. Estava a curar aos poucos, fechando.

>>Então este é o poder de um bijuu...<< - Sem perder tempo desceu o solo perto dele, onde os inimigos estavam a aproximar e em pouco tempo estavam em queda livre perante 30 metros até ao solo. Antes que pudessem escapar, uma parede enorme de 20 metros foi elevada com o novo poder de Nanabi e uma avalanche preencheu o buraco recentemente feito, enterrando com ele furiosamente os quatro Fiorences que restavam.

Ao fim de meio minuto, ninguém regressou de lá de baixo. Com o ódio a desaparecer, o manto desfez-se e Katayo voltou a sentir dor, uma tão aguda que o levou ao chão. Mas o inimigo não estava vencido. Lá ao fundo, vindo dos acampamentos, um grupo de mais de 10 soldados ninja avançavam para onde os outros tinham falhado. Tinha finalmente percebido que Katayo poderia ser uma ameaça. Mas já o mesmo não se via como tal. Estava fraco e fora uma sorte ter derrotado aqueles, mas contra tanta gente ao mesmo tempo seria impossível.

>>Por maior que seja a minha força de vontade... estou acabado. Um shinobi sabe quando desistir, mas eu não vou desistir. Vou morrer a combater.<< - Com um esforço enorme, obrigou as pernas a recomporem-se. >>E é assim que se deve morrer. A enfrentar. O inimigo.<<

E quando o enorme exército estava correr a pouco menos de cinco metros dele, sombras apareceram nas árvores. Chunnins e Jounnins com armaduras verdes características de Konoha apareciam de várias vertentes, começando logo ali a combater o inimigo e a causar as primeiras mortes. Pouco depois os aldeões apareceram e fizeram também o que puderam para derrubar o inimigo. O Aburame também continuou a agir, de longe com os seus Kikais, causando quebras nas forças de Fiora. E depois de mais duas horas de ataques, o adversário bateu em retirada e Rosh foi finalmente salva. As comemorações foram feitas, mas Katayo não quis celebrações para ele, nem louros nem títulos. Tinha cumprido a sua função e isso era tudo o que lhe bastava.

Onoki pareceu gostar do que aconteceu com Fiora, mas nada demais acrescentou. Katayo também não lhe tivera mais nada que dizer, pelo menos que quisesse dizer realmente. Lá bem no fundo pensava muitas vezes que aquela missão fora quase suicida, para ver se acabava por sucumbir perante Fiora. Fosse por que fosse, o jovem sentiu-se realizado, por ter conseguido naquela situação cumprir com o que lhe fora proposto, não só a nível shinobi, como a nível pessoal.