Tinha oficialmente passado um dia desde a sua ultima missão e o descanso merecido estava completo. Agora Katayo sentia-se plenamente descansado enquanto estava sentado sobre uma árvore alta na clareira perto de casa. Fazia isso pois gostava da paz que lhe trazia, principalmente quando queria ler. Estava agora agarrado a um livro sobre Fuuins, para aumentar a sua percepção sobre a nova especialidade.

Aburame Yawani, a sua mãe, interrompia esse descanso ao sair pela porta lateral e atravessar o jardim até ele. À muito que ela deixara de exercer missões, preferindo dedicar-se à casa e de certa forma ao seu adorado filho, enquanto o pai continuava a ser um Jounnin em pleno, chefe do Departamento 02 de Selamentos e Fuuins.

- Desculpa interromper-te, Katayo-chan.

- Não faz mal mãe. Passa-se alguma coisa?

- Recebeste uma nova convocação para a equipa 4, o Hokage quer-te lá ainda hoje pela tarde. - Já era meio dia por isso tinha mais 3 horas para se apresentar. - E não te esqueças, que tens a festa de anos do avô daqui a três dias. Claro, se estiveres em missão não poderemos fazer nada...

- Não te preocupes, vou tentar estar cá a tempo. As missões geralmente não duram mais de um dia ou dois. - Levantou-se e fechou o livro. - Tenho de preparar as coisas, não me quero atrasar muito. - Ela soltou um risinho.

- Oh, pareces tanto o teu pai... Estás tão crescido.

- Por favor para com isso mãe. - Detestava que a mãe o envergonha-se mesmo que não estando ali mais ninguém. Dei-lhe um beijo na cara e foi para dentro de casa.

Uma vez mais colocou a bandana sobre a testa e o colete verde aberto sobre a camisa e estava vestido para partir. Aliando isso à preparação da mochila e da bolsa de armas, estava completo para sair de casa.

Passou pela cozinha para comer algo e não ficar muitas horas sem se alimentar e aproveitou para colocar algumas barras e água na mochila. Carregou-a às costas e com um ultimo adeus partiu.

A pancadaria foi dura e mesmo após Aimi e os outros terem partido, Katayo ainda demorou algum tempo para conseguir sair do complexo. Tinha dores nos ombros, nas pernas, na cara e no resto do torso o que indicava que a kunoichi tinha feito as coisas bem, já que o Aburame passou por algumas ruas, mais ou menos movimentadas e chegou a ser visto por muita gente.

>>Quantos mais me virem, mais hipóteses tenho que algum deles informe o Hokage. Só espero que a Aimi consiga fazer tudo bem... Hakufu-san e Yukito-kun também. Eu fiz a minha parte, mesmo que sinta que foi melhor que a deles...<< - Agarrou o braço esquerdo, mais dorido e colocou-se a caminho da rua dos Aburames.

Quando chegou até que se sentiu aliviado por não estar ninguém na altura. Poderiam ter começado a fazer perguntas e o que ele menos queria era envolver mais pessoas naquela pequena loucura. Foi até ao armário e retirou de lá algumas ligaduras e desinfectantes. Tinha zonas onde o sangue podia muito bem correr de tão profundas que foram, mas usaria mais as bandagens para passar a imagem da tortura a que foi submetido. Tinha de admitir que faltava uma ténue linha para sentir que era mesmo verdade.

Quando terminou de envolver a testa em ligadura e colocar a bandana na mesa, assim como os braços e até as pernas, mesmo que nestas não estivessem visíveis. Deu por si sozinho e em silêncio, sentado sobre uma almofada, cheio de dores.

>>Não devia eu ter ido com eles? Não... eu fiz a minha parte, tenho acreditar neles. Para além do mais, continuarmos sempre juntos levantaria o dobro das suspeitas. Tenho de esperar. Talvez vá ao centro apenas para fazer mais um pouco de teatro daqui a alguma horas.<<

Tinha passado pouco mais de cinco horas desde que Fiora saíra e terminara a sua mal sucedida invasão.

O bairro dos Aburame tinha sofrido alguns danos nos telhados, casas e até alguns corpos estavam a ser levados pelos Medic-Nin que ainda cumpriam as suas ordens. A Katayo não lhe foi nada mais nenhuma ordem e por isso ele quis primeiro ir conferir a família e se possível o seu mestre. Rezava por tudo que eles tivessem sobrevivido, mas também não queria ganhar falsas esperanças quanto a isso.

A casa pelo menos estava minimamente funcional, algumas da paredes tinham rachas, mas no geral poderia ser novamente habitada, até mesmo antes das remodelações. Mas o jovem tinha o pressentimento que isso não ocorreria tão cedo. Konoha estava literalmente em tempos de guerra e por isso as obras eram algumas das coisas que ou ficavam para segundo plano, ou então como pequenos trabalhos sem grande pressa. Fosse qual fosse a escolha de Onoki, a vila não iria sucumbir.

Foi um alivio ao entrar em casa e perceber que a mãe ainda ali estava. Recebeu um abraço enorme entre choro e procurou logo pelo pai, mas ele não estava. A garganta apertou-se. Apenas Santaku apareceu no hall também, mais ninguém.

- O meu pai?!

- Não te preocupes ele está com a sua equipa de Fuuins. Estão a tratar de arranjar algumas soluções para defesas primitivas para a vila. Ouvi dizer sobre o teu Fuuin no grande portão, bom trabalho. - O homem parecia orgulhoso.

- As notícias correram depressa, sei que lutaste bravamente contra Fiora, meu filho. Acho que não é tempo de voltar a ser a mãe galinha e dizer o perigo que correste... eu sei perfeitamente o que é ser shinobi e o que isso implica.

- Obrigado mãe. Eu sei que deveria continuar a ajudar ai fora, mas estou cansado. - Falava agora para os dois. - Perdi muita gente hoje. Conhecida.

- Todos nós perdemos. - Comentou o seu mestre, aproximando-se e colocando a mão sobre o seu ombro. - Mas temos de seguir em frente e continuar a luta que eles nos deixaram em mãos e termina-la com o menor número de baixas possível.

- Sim, eu sei disso. - Naquele momento Santaku parecia estar a olhar para as suas roupas. O próprio Aburame sabia que parte dela estava rasgada e desgastada devido aos combates e a toda a acção.

- Yawani, dás-nos um momento, por favor? - A mãe acenou e afastou-se para a sala. Ao ficarem a sós, Santaku apanhou um saco que estava ali ao lado e ficou com ele em mãos. - Acho que já passou mais que tempo para me mostrares tudo o que aprendeste comigo. És um rapaz de 17 anos e estás pronto para avançar no teu treino mais que imaginas. Ensinei-te a usar a minha arma de assinatura, ensinei-te a arte perdida dos Masutā no Tameiki. Mas isso não fica completo enquanto eu não souber se estás disposto a algo mais.

- O que é esse algo?

- Eu já te conheço rapaz, sei que queres proteger esta vila acima de tudo. A vila e todos os que cá vivem e talvez foi por isso que decidi tornar-me o teu mestre. Tu tens o que é necessário para ser aquele a quem eu passo a minha herança. - Levantou o braço e ofereceu o saco a Katayo. - Ai dentro tens tudo aquilo que eu fui enquanto novo. As roupas e os novos Ferrões Ocultos que à muito te prometi, para que te tornes o novo salvador desta vila. Confio-te aquilo que em tempos eu também quis fazer.

- Sinto-me lisonjeado sensei. Espero não o desiludir. - Fez uma pequena vénia.

- Não irás eu sei. - Virou costas e começou a sair dali. - Sei que queres descansar e tu mereces. Falamos depois rapaz. - Katayo acenou-lhe e ele foi-se embora.

A noite chegou, mas o Aburame tinha quase a certeza que não dormiria. Foi um dia demasiado marcante para digerir e desaparecer do nada. Por isso pendurou num cabide a sua nova bela roupa, colocou os Ferrões Ocultos de prata onde antes colocava aqueles debutados e passou pelo menos uma hora parado, a olhar para a bandana negra de Tatsuo, pousada na sua mesa.

Na manhã seguinte a família não estava em casa, nem mesmo Santaku. O pai continuava a coordenar a sua equipa, como era seu dever e a mãe propôs-se em ajudar os aldeões mais frágeis. Sobre o mestre, pouco sabia, mas sabia que estaria também por ai a ajudar no que podia.

Vestira a sua nova roupa branca e azul e viu como se ajustava perfeitamente, compondo uma boa imagem de um corpo esguio de um rapaz com o exercício em dia. Mas não colocara o capuz que lhe tapava a maior parte da cara. Isso ficaria para quando estivesse em missões.

Antes de voltar a sair de casa, passou mais algum tempo na secretária, estudando as duas bandanas. Acabou por deixar a sua de lado e guarda-la para depois. Algo o movia a usar aquela que em tempos estivera na testa do seu amigo, como honra da sua alma, já que o corpo não poderia ter a sua até que a guerra acalmasse. Foi ai que percebeu alguém em casa. Uma habitação Aburame nunca está completamente vazia. Os Kikais por vezes percorrem as divisões e informam os mestres em casa das presenças não desejadas. Mas o que aqueles insectos informaram era alguém de Konoha, pelos vistos.

Não se mexeu do lugar e esperou que a presença chegasse até ele. Quando o encarou, teve um deslumbre de Tatsuo, ressuscitado, mas a sua mente rapidamente o demoveu de tal pensamento. Vendo a verdade, o cabelo dele era parecido, mas existiam traços diferenciados entre eles.

- Olá. - Disse, mas Katayo não respondeu. Esperou que ele se explicasse. - Preciso da tua ajuda para me responderes a algumas perguntas, será que podes? - Perguntou ele. Mas antes mesmo do Aburame responder, os olhos do rapaz estavam postos na bandana. - Tenho a certeza que serviu a vila da melhor maneira que pôde, os meus sentimentos.

O Jinchuuriki sorriu ligeiramente, mesmo que aquilo não tivesse grande graça. Foi apenas um pouco irónico e por isso levantou-se. Lembrou-se do que eram ter boas maneiras mesmo quando a disposição não era a melhor.

- Sim, serviu a vila da forma como conseguiu... Era boa pessoa, mas é uma longa história... O meu nome é Katayo e se queres respostas, terás de me dar apenas duas respostas, se eu esquecer que me invadiste a casa: Quem és tu e que perguntas são essas?

E sem pensar duas vezes, o jovem que adentrara assim na sua casa apresentava-se como Tsubasa, um estagiário da equipa médica, que pelos vistos estava a fazer o inventário dos estragos no bairro Aburame. Passou de um lado para o outro no quarto de Katayo, observando de certo as fissuras mínimas que a casa tinha.

- No geral o bairro Aburame conseguiu minimizar os estragos, já que as frentes de batalha se afastaram um pouco daqui. Existem bairros muito mais devastados, principalmente aqueles que estão na zona mais perto das muralhas. - Cruzou os braços e continuou a falar. - Eu já tive oportunidade de dar uma olhadela ao exterior e nesta rua penso que existem apenas duas casas completamente inabitáveis, mais a sul daqui. De resto penso que algumas pinturas e remendos mínimos aguentam as casas por aqui.

Enquanto lhe falava, estava atento nos seus movimentos e reparou com ele observava as fissuras tão de perto e como a seguir quase por magia preenchia um espaço com mais madeira. Mas aquilo não era magia nenhuma, em Konoha só existia um clã capaz de algo assim e era bem conhecido para que Katayo fosse ignorante ao ponto de não o conhecer, nem que só de vista.

- Eu faço parte de um esquadrão de estagiários para médicos, brevemente vou me formar.

- Ouvi dizer que os Senju tem excelentes qualidades médicas. Penso que te sairás bem. - Sorriu brevemente. A conversa estava a ajudar a abstrair de tudo o que se passara no dia anterior. Tsubasa poderia achar estranho as deduções rápidas de Katayo, mas ao longo do tempo isso só tendia a melhorar, pois a sua mente sempre foi iluminada o suficiente para avaliar cada pormenor e Santaku o mestre, com os seus treinos de concentração, só vieram a despertar mais o rapaz para isso mesmo. - É preciso mais alguma coisa? - Comentou, ainda um pouco alegre, enquanto o estagiário não se tinha pronunciado ainda a respeito de nada.

- É uma...longa história. Mas não, por acaso não era um Senju. Era um recente Jounnin... - Tsubasa pareceu tocar lá bem fundo naquele ponto específico. Parecia decidido a perceber de quem afinal era aquela bandana, mas Katayo não queria ser assim tão aberto para um perfeito estranho, mesmo que tenham ganho alguma empatia. - Ele foi mais um grande amigo perdido para Fiora e para todo este ódio do mundo. Penso continuar a honrar aquilo que ele foi usando esta bandana. - Agarrou nela. Poderia ter incluído algo como "um grande amigo que se perdeu para a vingança e acabou morto nas minhas mãos", mas não era necessário revelar assim tanto aquela informação. Afinal mais cedo ou mais tarde até por toda a Konoha se procuraria saber o que acontecera com Tatsuo, se é que Onoki não foi já informado de tal.

Moveu-se pelo quarto ainda com a bandana entre mãos. Parou a alguns metros de Tsubasa e arranjou um novo tema para que o assunto fugisse daquela ferida ainda por fechar.

- Se necessitares ou souberes de alguma coisa em que possa ser útil, estou ao dispor, já que como estagiário, podes estar mais dentro do assunto. De qualquer forma já tinha planos de sair hoje e dar uma volta por Konoha para poder perceber onde posso oferecer a minha ajuda...

Tsubasa pareceu receber uma espécie de sinal qualquer e ofereceu a Katayo a oportunidade de o acompanhar para saber se existiriam novas coisas que pudessem ser feitas em prol da vila.

- Nesse caso, vou acompanhar-te. - Comentou, atando finalmente a bandana sobre a testa. Estava fria, mas não importava, dali a nada, ficaria à temperatura normal. Não puxou do capuz, pois estava entre amigos. Pensava puxa-lo apenas quando pretendesse ser discreto. - Deverá haver algo importante para fazer.

E assim os dois abandonaram a casa e colocaram-se a caminho do gabinete. O Aburame estava curioso para saber como Onoki estava, não que o estimasse muito, mas porque fica o seu ferimento no dia da batalha e em como aquilo lhe afectaria a vida dali para a frente.