Hanzo caminhava nu por corredores labirinticos de olhos fixos no vazio, como que hipnotizado por alguma coisa. Os corredores que percorria eram desprovidos de qualquer tipo de decoração, aliás, quase se poderia dizer que aquele local era um esgoto subterrâneo já que a água chegava aos tornozelos do rapaz e das paredes alguns tubos pareciam desaguar mais água. Não havia escuridão, havia antes uma iluminação esverdeada proveniente de sítio desconhecido, que deixava ver claramente o caminho.

Ao virar uma esquina Hanzo parou, ainda fitando o vazio à sua frente de olhos brilhantes.
- Anda - sussurrou uma voz ao seu ouvido e Hanzo deu um passo em frente.
- Liberta-me - voltou a voz a repetir, desta vez um pouco mais alto, como se a proximidade do chunin deixasse alguma excitação no ar.
Os passos do rapaz avançaram então e, à medida que se ia aproximando, a luz verde deixou ver um enorme portão de ferro à sua frente com um selo nele colado.
Foi então que estacou o passo olhando com cara indiferente para o portão, estendendo a mão para o selo deste.
- PÁRA! - gritou uma voz, diferente da primeira e a mão de Hanzo parou a centímetros do pequeno papel e os seus olhos voltaram a ter vida de novo, como se tivesse acordado de um longo transe.
Rapidamente baixou a mão olhando em redor não percebendo de onde estava. Todo aquele lugar era estranhamente novo e a última coisa de que se lembrava era de que os altos escalões de Konoha haviam selado um poderoso demónio dentro de si.

- Estarei morto? - perguntou a si mesmo fazendo com que as palavras, repetidas pelo eco, se espalhassem por aquele local.
- AH AH AH AH! Morto? Não Hanzo, estás bem vivo. Aliás, mais vivo do que isto é impossível.
A mesma voz que chamara o rapaz para o selo fizera-se ouvir, desta vez sem sussurrar e o seu riso parecia uma mistura de uma voz rouca com um rosnado.
- Quem está aí? - perguntou Hanzo olhando para o enorme portão.
Várias bolhas vermelhas começaram a formar-se em seu redor o que fez com que o shinobi desse um largo salto para trás. À medida que estas iam aumentando o seu número, uma imagem ia-se formando aos poucos até que por fim revelou a enorme cabeça de uma raposa vermelha, a cabeça da Kyuubi aprisionada.
Esta olhou de alto a baixo um Hanzo nu que parecia admirado, não de medo, mas de espanto por tanta beleza contida naquele local.
- Isto é fantástico - disse mais para si do que para Kyuubi.
- Fantástico? - questionou a raposa espantada por o shinobi não ter medo de si como acontecia com todos aqueles que a encaravam pela primeira vez.
- Sim, fantástico. Sei quem és Kyuubi, conheço as lendas por detrás da tua existência. Não me interessa se são verdadeiras ou não. A mim interessa-me o poder que transportas.
- Pobre imbecil - começou o demónio por dizer - E julgas que te cedo assim o meu poder, sem mais nem menos? Que ingénuo.
Hanzo sorriu olhando os olhos vermelhos da sua companheira de alma. Esta estranhou o seu sorriso mas nada disse, preferindo esperar aquilo que o jovem rapaz lhe tinha para dizer.
- Julgas que te cedo assim a minha vida? Aqui eu sou o Céu e o Inferno. Na minha mente eu sou Deus - disse Hanzo com escárnio na voz enquanto à sua volta bolhas amarelas se formavam à sua volta, revelando a sua roupagem e armas ao desaparecerem. Restirou de uma kunai e encostou-a ao pescoço.
- Se eu morro, tu morres. Simples! Mas tenho um negócio a propor-te. O facto de me ter sacrificado para te alojar no meu corpo nada tem a ver com o salvamento das vidas que poderias retirar. Nada disso, aliás, o que eu quero é a destruição de todos.
Kyuubi ergueu as orelhas demonstrando que a sua atenção havia sido captada pelo rapaz.
- Mas eu sou apenas um shinobi - continuou Hanzo - Numa luta contra um Mundo inteiro. Por isso concedi o meu corpo, para adquirir o teu poder. Conjuntamente poderemos formar uma dupla imparável.
- E o que ganho eu com isso, no final? - questionou o demónio.
- Liberdade.

O focinho de Kyuubi desfez-se em várias bolhas vermelhas que fumegavam entre si. Por trás do portão dois olhos enormes eram bem visíveis assim como um sorriso sádico.
- Temos negócio - disse por fim na sua voz rouca, mais parecida a um rosnado.

Hanzo voltou costas com um sorriso nos lábios, certo de que as sua última palavra não havia passado de uma mentira. Não tencionava libertar Kyuubi de maneira alguma e, até ao momento em que esta lho exigisse, já o rapaz teria dominado a raposa por completo.

***

Os olhos de Hanzo abriram-se. As suas pupilas estavam vermelhas mas logo passaram para a sua cor normal. Estava numa tenda de campanha, provavelmente montada para servir de hospital provisório. Apertou a sua máscara que lhe ocultava parcialmente a face e ergueu a camisola constando que o selo feito pelo Hokage ainda estava lá.
Silenciosamente como um bom shinobi saiu daquela tenda embrulhando-se nas trevas da noite.
O portador da Kyuubi estava por fim solto e com ele vinha um poder capaz de mover montanhas.