E Tatsuo estava mesmo ali, em sua casa, como se nada tivesse feito. Isso deixava Katayo perplexo, pois o seu amigo estava completamente relaxado, como se nada o tivesse movido dali desde a ultima vez que estiveram juntos em missão e Fiora era apenas mais um rumor de mercadores.

- Não estás em posição de ordenar nada, agora vais te embora e deixas-me em paz com ele. - Sentou-se descontraído, mas Katayo não baixou a guarda. - Senta-te acho que tenho muita coisa para te explicar... Não é? - Ninguém se moveu naquela altura. O Aburame não tomou muita atenção a Susuki e Uziel, pois apenas via marionetas, mas sabia que eles não sairiam assim tão depressa. Nem ele.

Elo mental - Ele parece demasiado à vontade... De qualquer das maneiras não baixem a guarda. Qualquer coisa eu tenho jutsus prontos para utilizar e o imobilizar. Como vamos proceder?

Foi um momento de hesitação, mas não assim tão grande. Katayo não se mexeu do mesmo sítio, enquanto esperava para ver como os outros dois ninjas iriam seguir com aquilo. Se planeavam atacar, ele daria suporte. Se permitissem uma troca de palavras, estaria disposto a ouvir Tatsuo. Afinal, de qualquer forma que acabasse aquele encontro, ele queria respostas.

- Eu simplesmente não me vou sentar enquanto não souber o que realmente és. Primeiro responde-me... quem és tu, Uchiha Tatsuo?

Elo mental - Este é o ataque de "aviso", após ele vou oferecer rendição, porém tentem imobiliza-lo, caso precisem do avanço de alguma marionete é só falar. Não podemos deixar que ele fuja como o resto da fiora. Uma vez preso você terá a chance de saber a verdade Katayo e poderemos pegar informações sobre a organização. - Susuki já iniciou o plano com uma boa estratégia.

Elo Mental -Ele não conseguirá fugir! É dificil identificar a aproximação de minha mente e ele não poderá simplesmente desviar de algo que não vê, mas caso ocorra tenho outros truques para facilitar minha possessão.

Elo Mental -Caso necessitem de minha ajuda, mandem um aviso! Mesmo longe do combate posso chegar em segundos. - Kerberos mantinha-se longe para não ser afetado pelo combate e demonstrava preocupação, mas não havia motivos para tal ato.

Quando a fumaça da explosão esvaziou-se, Tatsuo estava calmo e sentado em uma poltrona. Apesar de não ver com meus próprios olhos, o clone de minha mente que estava na Marionete com o Kanji do Tigre, informava a mim todas as condições do local. Notei em sua expressão que não parecia ser do tipo paciente e mesmo que Susuki decidisse deixar o Aburame sozinho com ele, eu não o faria.

Elo mental - Ele parece demasiado à vontade... De qualquer das maneiras não baixem a guarda. Qualquer coisa eu tenho jutsus prontos para utilizar e o imobilizar. Como vamos proceder?

Elo Mental -Não se preocupem, ele não sairá tão cedo de seu lugar!

Minha mente se expandiu ao ponto de dividir-se novamente, o clone saiu de meu corpo e atravessou a Marionete sem qualquer rastro disparando em linha curva para entrar no corpo de Tatsuo por seu lado esquerdo. Provavelmente não iria ver a mente aproximando-se e com isto não teria chances de escapar. De inicio não o impediria de falar, mas não poderia mover-se. Enquanto lá estivesse, permaneceria parado, sem qualquer ação, apenas com a fala liberada. Em qualquer uma de suas afirmações, poderia investigar em sua mente e descobrir se era ou não verdade. Minha presença permanecia oculta.

Em sua forma de guardião, Kerberos adquire força e grande poder de ataque em combate corpo a corpo. O aliado perfeito para combate. Nesta forma adquire garras que utiliza como arma para o combate. Com seu tamanho, consegue transportar até 3 pessoas, mesmo voando.

A tensão adquirida durante todo aquele tempo foi ganhando um climax cada vez maior, à medida que Uziel estaria a controlar Tatsuo, pois o mesmo não se mexia, o que correspondia com a conversa mental que os três mantinham; Susuki dizendo que o plano se manteria e logo após isso deixando finalmente o Aburame receber as suas respostas.

Elo mental - Obrigado. Eu sei que não se poderão ausentar, entendo perfeitamente. - E nada mais disse, pois agora estaria visivelmente interessado em ouvir as palavras do velho companheiro.

Foi um discurso longo e até doloroso de se ouvir. Mortes, traições, sangue, ódio, tudo se resumia a isso. Nunca tinha ouvido a verdadeira história por detrás do misterioso Uchiha Tatsuo e agora sabia-a, das suas próprias palavras e mesmo que o tocassem, Katayo não era mais a mesma pessoa. Agora sabia perfeitamente guardar os seus sentimentos, mesmo que por dentro a tristeza o corrompe-se. Assim que ele terminou, o silêncio perdurou por muito tempo. O que foram minutos pareceram anos, pelo menos para o Aburame.

- Ódio e vingança... É a isso que se resumem as coisas neste mundo, não é? - Foi uma pergunta retórica. Não moveu quase nem um músculo. - Sabes que mais, não sei o que te dizer. Foi correcto? Não. Mas foi incorrecto? Também não o posso dizer convicto. - Apontou para o ar, o ar carregado de Konoha após aquela guerra que destruiu bastante. - Ouves isto? Sim, não há nada para ouvir... A vila foi atacada por Fiora e pelo teu pai, eu estive frente a frente com ele e consegui ver o ódio nos seus olhos. Hideki não levou ninguém para a campa. Mas quando o teu pai morrer, já lá esperam por ele o Yukito, a Hakufu e mais de metade dos shinobis que hoje lutaram bravamente contra a ameaça! - Estava a gritar. E ele quase nunca gritava. - Querias vingança? Uchiha Nakano era o teu bode expiatório, o homem que se corrompeu, pelo que dizes. Se Hideki era assim tão mau, terias a hipótese de o tentar mudar quando um Uchiha se mostrasse superior ao ódio do seu clã e mata-se o verdadeiro traidor logo de início! Se o teu pai está com Fiora, quem me diz que não tem culpa nisto tudo também?! - Moveu-se ligeiramente para o lado. Continuava a encarar Tatsuo sem problemas. - Cheguei à conclusão que continuas a ser a pessoa sem rumo que eu conheci à anos atrás. Qual é o teu rumo? - Perguntou-lhe mas não o deixou responder. - Falas em que impedirás que ele te leve aquilo que mais gostas. O que é isso? - Lembrou-se de algo. - "10. O Shinobi pensa primeiro na vila, depois nos outros e por fim em si.", onde estava a vila no teu pensamento quando os teus propósitos acabaram com o Hideki e com metade do nosso hospital?; "3. O Shinobi tem que suportar o peso que lhe colocarem em cima.", continuas a suportar o teu? Eu continuo. Carrego comigo no coração as pessoas que morreram por minha causa, directa ou indirectamente. - Colocou a mão no peito. - Mas não é isso que me vai fazer passar por cima de tudo e todos só para acabar com Fiora. O tempo dá-nos tudo e mais cedo ou mais tarde, terei a minha oportunidade de o matar, se puder com as minhas mãos se não nas mãos dos meus colegas de vila, mas durante esse tempo, nem uma vez encontrarei atalhos para lá chegar. E é por isso que estou aqui hoje à tua frente, Uchiha Tatsuo, porque para mim não existem atalhos na vida e se este for o teu ultimo dia... será.[/b]

Elo Mental -Belo discurso, Katayo-kun! E devo admitir que a história deste tal Tatsuo é triste, mas não caia em suas palavras, apesar de serem verdadeiras, ele é movido apenas e unicamente por ódio e vingança, sua alma não vale nada! Já visitei o mundo dos mortos várias vezes e na primeira vez foi algo involuntário. Ele acha que sua vida é sofrida e que somente acontece as coisas com ele, mas eu praticamente morri de todas as maneiras possíveis e perdi todos que me foram importantes, nem por isso estou atrás de vingança! Não permitirei que minha alma seja corroída e por isto acredito que tudo o que ele fez foi consciente de seus atos. Para mim ele é mais do que culpado!

Meu jutsu para saber se suas afirmações eram verdadeiras exigia que estivesse a observá-lo, algo que o clone de minha mente fazia dentro da marionete com o Kanji Tigre. Não esperei qualquer reação dos dois, sabia o que deveria ser feito e para isto meu controle deveria ser totalmente perfeito, diminuindo chances para que escape. Poderia tentar, como muitos shinobis que enfrentei em outras batalhas a escapar de meu controle bloqueando seu próprio chakra, um erro comum para aqueles que imaginam meu jutsu como um Genjutsu, mas uma vez executado somente a própria mente do alvo pode se libertar e para isso deve ser no minimo equiparável ao meu espirito. Meu nível de controle aumentou e junto dele o gasto de chakra para manter meu jutsu, não poderia ficar naquela situação por muito tempo.

Elo Mental -Aperfeiçoei meu controle e mesmo que queira, não poderá mover-se. Não quero revelar minha presença e acredito que seu algoz deve ser aquele com quem conviveu... - Mantive-me inexpressivo mesmo em minha voz. - Katayo! Sei que será difícil, mas você será o salvador da alma deste shinobi.

Poderia parecer loucura aquele papo de alma, mas sei muito bem como funciona as coisas no outro lado e era um assunto muito complexo para ser discutido em um momento como aquele. Entreguei para Katayo o destino do Uchiha, não iria causar dano em sua mente conturbada, mas não permitiria que move-se. Poderia ser covardia, mas estava seguindo o dever shinobi.

O plano estava lançado e as ultimas palavras de todos foram dolorosas para o Aburame. Mas era mesmo isso que ele queria, se Tatsuo se tornara um inimigo de Konoha, quem mais poderia mata-lo que o amigo de infância, aquele a quem ele virou as costas? Mas saber que o tinha de fazer era o mais triste. De repente lembrou-se de maneira infantil da sua primeira missão, onde teve de matar a primeira pessoa e como ele odiou faze-lo, mas tem de ser, um shinobi tem de conseguir ter forma para eliminar aqueles que querem destruir o mundo.

As katanas das marionetas já estavam cravadas nele e a mente de certo controlada para que não se mexesse. Cruzaram olhares por um momento.

- Hideki foi quem se corrompeu, não o meu pai. Acusou-o de algo que ele não tinha feito e quis matá-lo por algo mais que não te sei dizer. Se eu me arrependo de alguma coisa? Talvez. O meu pai não usou os métodos que devia ter usado, virar as costas a Konoha, achei isso errado. Eu por outro lado virei as costas à raiz do problema, o Hokage, a vila sempre foi o meu local zen, onde eu me sentia feliz.

- Nós nunca viramos as costas aos nossos amigos, muito menos aos nossos inimigos. Nós não matamos quando as pessoas estão mais indefesas e em coma, lutamos com honra. E para merecer uma morte com honra, um ninja necessita de uma vida com honra. Eu mudei Tatsuo, não posso mais continuar a ter piedade de quem não a tem também neste mundo. - Aproximou-se só ligeiramente de Tatsuo. Respirou fundo.

- Katayo, aconteça o que acontecer, pode não ser num espaço de tempo tão curto assim, mas um dia vais perceber a minha escolha e ver que nem tudo o que parece, é. - Nesse mesmo momento a agilidade de Katayo colocou-o a correr em linha recta contra o cadeirão. Adquiriu tão alta velocidade que teve tempo de segundos para ficar lado a lado com a face de Tatsuo e com as lâminas a centímetros do seu corpo, antes de ele entrar em sono profundo.

- Nem tudo o que parece é... Tens razão. Obrigado, amigo. - Com o seu estilo de luta aprimorado, o Aburame conseguiu fazer deslizar a lâmina oculta causando alguma pressão num ponto estratégico e mortal com Atsuryoku - Rō, com ambas as armas, perfurando a pele e acabando com o sofrimento daquela alma, palavras pensadas por Katayo da autoria de Uziel. E assim tudo terminou tão rapidamente como começara.

O jovem queria permanecer apático perante tudo aquilo, mas era quase impossível. As lembranças de Tatsuo estavam demasiado gravadas na sua mente.

- Invejava-te enquanto vivo, quando ainda mostravas ser um excelente shinobi e continuo a invejar-te após a morte. - Não falava para ninguém, apenas para si. Até se esquecera que os outros dois ainda por ali permaneciam. - Ao menos não terás de continuar a sofrer neste mundo de ódio. Prometo que permanecerei aqui, vivo, suportando o peso pelos dois. - Uma pequena lágrima escorria-lhe pela face.

Pela casa destruída, começaram a cair gotas de água. Estava a ponto de chover. Isso encobriria algumas das outras lágrimas.

Antes de voltar a revelar minha presença tive a certeza que não teríamos surpresa alguma com algum tipo de visitante inesperado, até mandei um sinal mental para que Kerberos entrasse na casa e foi exatamente o que fez. Através da abertura criada pela explosão que Susuki criou com sua marionete, surgiu o grande Tigre com asas brancas, molhado, mas ainda sim belo.

-Requiem aeternitatis in pace! - Aqueles eram meus desejos para que a alma de Tatsuo descansasse em paz, eles poderiam não entender, mas não importava-me - Sei que vai gostar de um funeral a altura para seu amigo, mas os segredos de seu corpo não podem ficar com fácil acesso a ninguém... - Ainda estava dentro da Marionete, pois Susuki ainda não havia me liberado. - Para o bem da vila, recomendo que guarde o poder de Tatsuo consigo! - Mesmo não conseguindo demonstrar, era para Katayo que minhas palavras seguiam. - Se não se importa, eu quero ir para casa. Ainda tenho de pesquisar como ajudar Onoki com seu braço decepado...

A chuva continuava quando o gato gigante de Uziel entrou pela fissura e se juntou ao trio shinobi. O rapaz de cabelos brancos dizia algo numa língua diferente, mas que daria para perceber se tratar de algum ritual ou palavras sagradas para a morte de alguém. E Susuki nada disse, pois não havia muito a dizer que o cumprimento daquilo que estavam destinados a fazer, mas o Yamanaka comentou que Tatsuo era valioso demais para ter o seu funeral normal e de certa forma Katayo sabia que tinha razão.

Colocar o seu corpo numa campa só deixaria a Fiora a oportunidade de finalmente levarem o o corpo, uma vez que no anterior funeral o tentaram também.

- Sim, tem razão. Gostaria de dar um funeral digno a ele, mas estamos em guerra e o inimigo esteve em Konoha, não podemos ter a certeza que ele não volta a tentar penetrar nas nossas casas e o levam. - Agachou-se e começava a retirar algo da pequena bolsa. - O mais seguro será coloca-lo num Fuuin até que tudo isto passe. Até lá veremos o que poderá ser feito ou não. - Desenrolou facilmente o pergaminho e deixou-o rolar pelo chão. Passou o dedo no sangue que estava a secar nas roupas de Tatsuo, os locais onde as feridas o perfuraram e escreveu o seu nome em kanjis no papel branco, não dispensando envolve-lo em círculos e selos, para dificultar que alguém decifrasse facilmente o seu conteúdo. Para isso criou um selo de identificação digital, onde apenas o seu polegar poderia abrir a primeira tranca de segurança e depois, manipular o Fuuin em pleno.

Com apenas dois selos de mão e colocando cada mão num local, a direita em Tatsuo e a esquerda sobre o pergaminho, activou-o, começando a consumir o corpo inanimado do cadáver e a faze-lo desaparecer enquanto os kanjis no pergaminho iam aumentando. Ao fim de um minuto, todo o corpo tinha com sucesso sido transferido para o interior do selo e assim a tranca fechou-se e o pergaminho enrolou-se automaticamente. O Aburame pegou nele e continuou a segura-lo enquanto voltou a encarar os restantes.

- Peço desculpa, mas necessito de um momento para aclarar as ideias. A guerra e o Tatsuo ainda estão muito na minha mente, como na mente de vocês e de toda a vila. Foi-nos dado um mês para nos preparar-mos, mas eu necessito pelo menos de um para me sentir preparado. - Fez dois pequenos kikais voarem perto de si. - Se necessitarem de me encontrar, poderão fazê-lo no bairro dos Aburame, penso que conseguirei ainda por lá viver se a minha casa não tiver sido destruída. Em qualquer caso, se aceitarem estes kikais eles estão habituados ao meu chakra e podem conduzir-vos a mim caso eu esteja na vila. Mas penso que isso não será problema para si Uziel. - Tinha visto a habilidade que ele teve em conseguir localizar o chakra do Uchiha. - Eu vou andando. Vê-mo-nos em breve. - E começou a sair da casa. Estava esgotado e só queria descansar um pouco, esperando não ter fantasmas para o atormentar.