Os últimos acontecimentos mexeram com minha cabeça, não sabia como ficaria daquele ponto em diante e não poderia simplesmente me deixar ser vencida. Escolhi seguir um caminho no qual eu sabia o resultado e agora não poderia fraquejar. Decidi me afastar de Konoha por uma semana e limpar minha mente, as montanhas foram meu destino. Um local calmo, com pouca movimentação, uma fonte termal natural e uma bela cachoeira para me refrescar. Comigo eu tinha livros dos mais variados assuntos, além do necessário para sobreviver. Iniciei aquela semana com uma bela leitura sobre medicina. Sentei-me próximo a uma árvore e aproveitei a brisa e o sol.

Estava me sentindo estranha, o sol em contato com minha pele fazia meu chakra reagir. Como se algo estivesse despertando dentro de meu corpo, mas eu não conseguia explicar o que era ou se era algo bom. Passei a ignorar aquilo, talvez a sensação de estar livre de preocupações me fizesse sentir aquilo ou até mesmo fosse algo de minha cabeça, mas é uma sensação fantástica. Suspirei e senti o ar puro a minha volta, comecei a ler um dos livros que havia trazido comigo.

“Anatomia Humana! É um campo especial dentro da anatomia. Ele estuda grandes estruturas e sistemas do corpo humano, deixando o estudo de tecidos para a histologia e das células para a citologia. O corpo humano, como no corpo de todos os animais, consiste de sistemas, que são formados de órgãos, que são constituídos de tecidos, que por sua vez são formados de células. Os princípios de pesquisa podem ser a anatomia descritiva, quando se analisa e descrevem-se os órgãos baseado nos tecidos biológicos que o compõem ou pode ainda ser adotado o critério da anatomia topográfica, quando se analisa e descrevem-se os órgãos com base em sua localização no corpo. É através da dissecação e de outras técnicas adjacentes que se consegue visualizar, analisar e estudar cada parte do corpo humano.” Peguei a garrafa de água que havia trazido e tomei um gole, olhei ao meu redor e voltei a minha leitura. “Classicamente o corpo humano é dividido em cabeça, tronco e membros. A cabeça se divide em face e crânio. O tronco em pescoço, tórax e abdômen. Os membros em superiores e inferiores. Os membros superiores são divididos em ombro, braço, antebraço e mão. Os membros inferiores são divididos em quadril, coxa, perna e pé.”

-Haaaa.... – Suspirei em desânimo – Eu já sei tudo sobre isso! Não tem porque continuar com essa leitura. – Revirei procurando algo mais atrativo até que encontrei um livro com uma capa dura de cor vermelha. – A ciência sobre as Ervas... Neste livro tratamos sobre venenos, antídotos e plantas medicinais... – Abri o livro e folheei vendo as imagens. – Interessante, quem sabe tem algo que ainda não vi. – Tomei mais um gole de água e comecei a minha leitura.

“Venenos. Um veneno consiste em qualquer tipo de substância tóxica, seja ela sólida ou líquida ou gasosa, que possa produzir qualquer tipo de enfermidade, lesão, ou alterar as funções do organismo ao entrar em contato com um ser vivo, por reação química com as moléculas do organismo. A diferença entre uma substância venenosa e uma substância farmacêutica ou mesmo nutricional é que um veneno é mortal em determinada dose e não tem qualquer função terapêutica. Flúor e iodo podem ser considerados venenosos, mas têm aplicações terapêuticas em mínimas doses, sendo o iodo indispensável e o flúor um bom fármaco contras as cáries. Os venenos podem ser de origem mineral como o arsênico ou mercúrio, vegetal como a cicuta ou algumas plantas venenosas, por exemplo, as plantas medicinais, como a Atropa beladona que contêm substâncias tóxicas que são venenos em determinadas quantidades. Animal como a peçonha de serpentes, abelhas e medusas e até mesmo artificial.” Fiquei decepcionada, afinal não havia nada de novo até então.

-Acho que vou começar a escrever livros sobre estes assuntos de modo a ser mais direta. – Voltei a ler, mas desta vez em voz alta, como se estivesse lendo para alguém. - Antídoto é uma substância ou mistura que neutraliza os efeitos de um veneno. Esta ação pode reagir diretamente com o veneno ou amenizar e até reverter à ação biológica causada por ele. Por exemplo, metais pesados podem se acumular no tecido gorduroso ou nervoso, causando danos e o antídoto consiste em substâncias que se combinam com eles, evitando-os de agir no organismo. Já agentes neurotóxicos como alguns inseticidas e gases de guerra química, como sarin, não são atacados diretamente, consistindo o antídoto de substâncias que revertem ou anulam sua ação, como atropina, em complemento de outras, até que a substância seja metabolizada ou excretada pelo organismo.

Fechei o livro por algum tempo e decidi olhar toda a paisagem, notei que havia algumas ervas medicinais e até mesmo algumas venenosas e os animais sabiam distinguir uma das outras o que acabou me fascinando. Passei o resto do dia estudando aquele comportamento dos animais e tentei aprender tudo sobre aquilo para criar algum tipo de auxilio, quem sabe um ser humano seja capaz de ter tal habilidade. Várias pessoas poderiam ser salvas em meio a uma floresta. O dia passou rápido e se tornou muito cansativo, já era noite e estava aproveitando a fonte termal das montanhas, a água quente com algumas ervas como se fosse uma grande xícara de chá restaurava meu cansaço físico e o vapor com o aroma exalado restaurava minha mente. Acabei caindo no sono e sonhei com o dia em que comecei a trabalhar no hospital, realizei atendimentos de todos os tipos, desde ferimentos leves como cortes, arranhões e até venenos simples até mesmo o que marcou aquele dia por toda minha vida. Uma fratura exposta, onde tive de pedir ajuda para alguns estagiários. Primeiro uma anestesia geral para impedir que o paciente sentisse dor e depois a cirurgia super delicada para colocar o osso em seu devido local e restaurar o músculo. Imobilizei a perna e deixei o paciente por seis meses no hospital passando por um tratamento fisioterapêutico e tomando medicações para fortalecer os ossos e os restaurarem. Infelizmente ele não poderia mais seguir com a carreira de Shinobi, mas como um ótimo interrogador ele começou a trabalhar para a policia de Konoha.

Acordei dentro da minha barraca, por sorte não havia qualquer tipo de animal e muito menos inseto. Afinal aquela barraca permaneceu fechada e tinha uma tela contra insetos onde pude sentir a brisa fresca da noite enquanto dormia. Notei que meu chakra voltou a circular com melhor controle, nunca havia tido aquela sensação, por um instante quando concentrei meu chakra para ter certeza do ocorrido, uma faísca se formou em minha mão esquerda e em minha mão direita estava em chamas. Fiquei eufórica com tudo aquilo, no final das contas eu estava manipulando chakra Elemental, algo que há tempos não conseguia realizar. Enfim, me sentia como se pudesse domar o mais poderoso dos shinobis e decidi aproveitar um pouco da cachoeira.

A água gelada fez com que eu despertasse, as frutas que havia conseguido se tornaram uma bela salada de frutas resultando em um perfeito café da manhã. Iniciei uma meditação para me conectar com meu corpo e descobrir mais sobre mim mesma, passei horas meditando até sair do transe com uma única coisa em mente, Fuuinjutsu. Procurei entre os livros que havia levado comigo e consegui encontrar apenas um sobre Fuuinjutsu, por sorte é um livro bem completo que abrange muitos assuntos.

-Se quero aprimorar meus Fuuin, eu preciso estudar sobre eles! – Comecei a folhear o livro e parei por um instante para beber água. – Hmmm... Apesar de que consegui criar uma chave para meu laboratório, não sei como aquela garota conseguiu entrar, mas deve ser por falta de experiência de minha parte...

Comecei a ler o livro, inicialmente aprendi como criar um contrato para invocação. Teria de haver o ligamento sanguíneo de ambas as partes em um contrato que não passa de um Fuuin super decodificado para analisar ambas as partes e criar uma conexão corporal, onde caso um necessite do outro, apenas uma gota de sangue seria o suficiente para invocar a outra parte. Era como se ambos os lados ficassem unidos pela alma e pudessem ter seus corpos em locais diferentes. Estava tão entretida com o livro que mal notei uma presença bem na minha frente e quando percebi saquei um bisturi já encostando praticamente no pescoço da pessoa e a encarei.

-Por que me vigia? Acha que sou um pássaro ou uma foto? – O homem não parecia ter qualquer habilidade shinobi, mas ele acabou sorrindo e virou uma pequena nuvem de fumo.

-Não se preocupe pequena Dama, sou apenas um shinobi aposentado que já não suporta este mundo de caos. E pelo visto você não parece querer fazer para ninguém... – Ele falou em tom irônico o que me fez abaixar o bisturi.

-Se não tivesse me pegado de surpresa, eu não teria o ameaçado. – Não poderia revelar que minhas habilidades estavam ameaçadas e que já não exercia minha função como Shinobi.

-Me chamo Takao e sou um shinobi aposentado... – Ele caminhou até o pequeno lago que a cachoeira formava e molhou o rosto. – Mas me diga, o que uma bela garota como você faz em um local como este?

-Estou apenas colocando minha cabeça no lugar... Não vou entrar em detalhes, mas aconteceu muita coisa em minha vida e agora estou sozinha neste mundo de caos! – Ele olhou para minha mão e sorriu.

-Quer ajuda? Eu sou um bom Fuuin-nin, mesmo fazendo algum tempo que não utilizo... – Sorri e acenei em afirmativo.

-Fico muito grata!

Ele começou a me ensinar sobre o básico de Fuuin e quais os significados das diversas formas, aprendi também como criar uma invocação aplicando o conceito que havia acabo de ler no livro. Meu primeiro teste estava para acontecer, com tudo o que ele me ensinou eu deveria criar um pequeno selo que fosse capaz de selar um poderoso jutsu. O velho aposentado ficou próximo ao lago e eu criei um fuuin na palma da minha mão. Uma poderosa rajada de água se formou e quando se aproximou eu apliquei chakra no fuuin de forma a liberta-lo e prender o jutsu, mas acabei falhando. Analisei o que havia feito e descobri que havia errado um pequeno traço, com tudo corrigido me tornei algo de outro poderoso jutsu, mas desta vez acabei conseguindo o selar com perfeição.

-Muito bem! Agora vamos há outro teste e estamos no horário perfeito... – Ele olhou para o céu e notei que já se passavam da meia noite.

-Nossa! Treinei por tanto tempo assim?

-Agora vem o teste final. Eu vou liberar o demônio que selei em uma espada, porque ele está causando problemas para aqueles que a tocam e você terá de sela-lo em algum objeto inofensivo enquanto eu o distraio!

-Parece complicado, mas vamos lá...

O homem me ajudou a criar um novo Fuuin, desta vez ele estava ampliado pelo chão e o objeto selecionado era um candelabro que ficou no meio do fuuin. Posicionei-me em um ótimo local para concentrar chakra no Fuuin e selar o demônio e quando fiz o sinal, o velho liberou o demônio que parecia um samurai. Eles começaram um combate e eu liberei o fuuin utilizando meu chakra. Várias correntes saíram do candelabro, mas eram feitas de puro chakra e agarraram o samurai demônio. Tive de utilizar toda a potência do meu chakra para arrastar a alma do samurai e a selar no objeto, exausta acabei desmaiando.

Quando acordei percebi que estava em cima de um lençol branco próximo da minha barraca, pensei que todo o ocorrido fosse um sonho, mas acabei achando um bilhete. Takao descreveu que minha habilidade com Fuinn não era perfeita, mas minha potencia de chakra era muito grande o que resultou em um ótimo selamento. Já estava satisfeita com tudo aquilo e após organizar minhas coisas, tomei rumo de volta a Konoha. Por algum motivo, sentia-me mais forte e confiante. Como se todo meu poder tivesse sido restaurado.