Faz tempo. Muito tempo. Há quanto tempo já não me importei mais em contar, mas sei que há tempos não faço nenhuma missão. Os projetos científicos tomaram todo o meu tempo. Algumas vezes eu me sinto como um animal enjaulado dentro do laboratório. E sinto em maioria dessas vezes que a culpa é do selo. Tem algo dobre esse selo amaldiçoado que está errado. Definitivamente.
Parei de observar a marca no pescoço e então terminei de vestir o meu kimono. Era mais do que hora de fazer algo mais... Banal por Kiri. Estava sendo torturante passar tanto tempo dentro de um laboratório. Pelas ruas enevoadas as pessoas olhavam um pouco desconfiadas. Era sempre estranho ter alguém novo na vila. Principalmente se esse alguém novo for um ex-ninja de Konoha
Mas a desconfiança por parte deles é plenamente natural e compreensível. Não é como se eu não ouvisse por exemplo crianças comentando na rua sobre "O ninja de Konoha que mora no fim da rua", porém é até engraçado receber essa atenção. Eu tinha passado um bom tempo sem sair da minha residência. Não precisava de pressa para ir falar com o Mizukage.
Tanto é que fui andando a passos lentos, respirando o ar úmido e frio. E não demorou tanto até chegar ao escritório do Mizukage. Menos ainda até que eu tivesse a permissão necessária para subir. Mais uma vez, fui com calma, vendo os poucos prédios que perfuravam o lençol de névoa sobre a cidade. Era possível até mesmo ver a minha residência, mas quase que completamente apagada pela névoa.
Construi uma casa em Kiri exatamente igual a que tinha em Konoha. Uma réplica perfeita nos mínimos detalhes. Poderia parecer um pouco masoquista tentar reviver as lembranças que aquela casa me trazia, mas era preciso. Porque no fundo eu sei que tudo o que fiz foi pelo bem de todas as pessoas. As pesquisas eram importantes demais para ficar nas mãos de alguém que não fazia absolutamente nada com elas. Alguém como o meu pai.
Eu poderia até mesmo dizer que me arrependo, mas não. Nem um pouco. Se tivesse a chance faria igual. Continuei subindo as escadas, até que levei uma pontada muito forte no peito. Forte o suficiente para me fazer cair de cara nos degraus. — Tsk! Dro... Droga. — Completei com ressentimento no olhar. Desde a luta com os meus pais eu estava tendo essas dores repentinas e pequenas mudanças de temperamento. Culpa do agente viral que o meu pai administrou. Sem antídoto conhecido. Só retardatários!
Se eu não achar logo uma cura para esse veneno ao invés de retardar ele, isso vai acabar sendo um grande problema! Saquei do bolso uma injeção de anti-vírus e apliquei de uma vez no braço sem a mínima cerimônia. Rangi os dentes devido a queimação da fórmula. Droga! Sentei nos degraus até a ardência nos músculos passar um pouco. Levantei e continuei andando.
Essa versão do anti-virus faz efeito por 72 horas. Três dias é tempo o suficiente para cumprir uma missão, mas por precaução vou levar um de reserva caso eu realmente chegue a fazer uma missão. Bati na porta do escritório e abri devagar.
— Com licença, Mizukage-sama? — Entrei e baixei a cabeça por um insante, numa vênia formal. Logo em seguida continuei. — Kurotsuchi Hariaki se apresentando... Gostaria de saber se há alguma missão disponível no momento. — Completei em um tom tranquilo, ainda sentindo uma leve formigação onde a injeção foi aplicada. O anti-virus estava se espalhando pelo organismo e isso era bom..