A travessia aérea fora a mais segura, talvez, mas não a mais agradável. O sol açoitava as costas dos dois aventureiros, que no lombo do morcego cruzavam abaixo das nuvens para tentarem defender as próprias costas do sol. Foi uma estratégia útil, até certo ponto, mas ainda assim, em alto mar era quase improvável de se encontrar nuvens... ainda assim eles seguiram firmes no caminho.

O oceano lá embaixo era bem limpo, tanto que eles não chegaram a se confrontar com alguma grande embarcação atravessando os mares. Algo de se observar, mas não tão inesperado assim, pois Koihime contava que algo assim poderia acontecer, dada a noção mediana que tinha do ponto onde partiram e onde iam pousar.

Tsubasa voava ágil, mas ainda assim pelo tamanho do grande oceano eles levaram pelo menos uma hora e algo mais para cruzar tudo aquilo de água. Pelo caminho Koihime instruía seu discípulo. Sempre tinha lições a ensinar, comentários e observações a fazer. Sua escolha sobre Ruller não fora motivo de arrependimento, porque ele simplesmente parecia muito receptivo aos ensinamentos, bem como a curiosidade comum do garoto era um fator chave para que eles pudessem manter um diálogo mais descontraído e que rendesse algo.

- Quando chegarmos lá deveremos fazer um breve reconhecimento do local, tudo bem? Não sei como é a vegetação desse lugar, por isso precisamos ter uma noção básica e geral das coisas. Talvez seja necessário que nos separemos por alguns minutos, até que possamos fazer um levantamento das coisas... Gostaria que quando isso acontecesse, você pegasse pelo caminho algumas frutas ou vegetais que achar comestíveis. Mas não coma! Por favor... traga para mim. Precisaria reconhecê-los antes de qualquer coisa, certo?

Na verdade o breve combinado fazia parte de seu plano. Tinha que otimizar a tarefa de encontrar a velha cujas referências apontavam ser a portadora do contrato com os Sapos, o real motivo de Koihime ter viajado tudo aquilo. Ruller era um jovem sem talentos naturais, como uma linhagem avançada ou coisas mirabolantes do tipo. Era uma pedra bruta que necessitava ser talhada aos poucos, e era um grande objetivo de Koihime promover aquilo. Não era atoa que estavam ali. Queria fazer dele a resposta para todos os arrogantes que acreditam que um verdadeiro shinobi só se constrói com poder nato, que nascem predestinados a vitória ou qualquer baboseira assim. Ajudaria Ruller a provar que a verdade de um shinobi se conquista, com esforço e suor. Ia ajudá-lo a ser notado, tanto quanto ele merecia.

Depois do longo tempo a verem só o azul do mar, finalmente de cima puderam vislumbrar um pedaço de terra, o litoral da Ilha Nagashi. Lá eles desceram, depois de Tsubasa rondar o céu até os dois checarem que era seguro pousar. A Hokage deu ao parceiro animal um descanço, permitindo-o voltar para seu mundo. Aí iniciou uma caminhada pela praia, já direcionando para a mata pouco densa mais a frente.

- Como disse, vamos ter que nos separar. Ao meu sinal, você vai para lá e eu para cá. Volte antes de o sol apontar o meio dia. Ao menor sinal de perigo, se esconda, corra, fuja, volte para a praia e ache uma forma de lançar um sinal aos céus, aí eu saberei que devo te encontrar imediatamente, estamos combinados? Não esqueça do que já lhe ensinei. Foi pensando numa situação dessas que disse tudo... é sua hora de testar os ensinamentos e provar que aprendeu!

Na verdade, a loira jamais deixaria seu discípulo sozinho. Ao contrário, estaria na cola dele durante o tempo inteiro no qual ele pensaria estar só. Era um truque simples, restrito aos Tsuchi, uma técnica de camuflagem bastante eficaz, na qual ela estaria sempre oculta em algum lugar não muito longe do jovem Ruller. Era seu dever não só manter a segurança dele, mas também averiguar se realmente estava considerando os pontos certos.

O sol já brilhava intenso bem no topo ao centro do céu. Sua potência era tanta que um clima mais quente era notável, apesar das brisas oceânicas que ajudavam a amenizar. Koihime transpirava um pouco por isso, também por ter circulado como o vento de um lado para o outro da floresta, catando uma quantidade razoável de frutas e vegetais antes de retornar para a praia.

Em algum lugar lá atrás, ainda na floresta, estava Ruller que a uma hora dessas já retornava para o ponto de encontro. Ela tinha que estar ali antes dele, como se nada tivesse acontecido, como se ela não tivesse em sua cola o tempo todo, observando-o. Por isso, de joelhos no chão, debaixo da sombra de uma árvore ela começava a arrumar o que tinha pego. Cantarolava distraidamente enquanto organizava as coisas, já pensando inclusive em pescar para que pudessem completar o almoço.

Dedicava-se em improvisar um lugar bom para almoçarem. Era uma alimentação bem variada, mas certamente ainda faltavam alguns nutrientes, principalmente os provenientes de carne.

Um ruído na mata registrou a chegada de Ruller. O pequeno trazia nos braços algo que havia coletado por ali, como tinha ordenado a líder. Tinha um sorriso na face em resposta ao dela, também parecia um pouco desligado, talvez pensativo... tinha algo a falar, e disse.

Relatou sua proeza de ter ajudado a velha Naoki a ter de volta um pertence roubado, e que em troca ela lhe presenteeou com um pergaminho. O objetivo inicial de Koihime fora conquistado então, Ruller já tinha acesso à invocação dos Sapos.

- Nossa que interessante! - demonstrou interesse verdadeiro - Fico orgulhosa com a boa ação, e também com o prêmio... Não falei antes, e você nem me questionou do porquê dessa nossa viagem, mas, bem, estou te falando agora que era justamente esse o objetivo. E como deves saber como funcionam os atos de contrato, deve entender que por não ter esse eu não poderia te ensinar eu mesma. Tinha que te trazer até aqui. - tinha um sorriso torto, porque tentava não imaginar uma reação negativa da parte do garoto, já que ela omitiu detalhes de tudo durante aquele tempo inteiro - Erh... bem, o que importa é que esta aí, não é?! Sei que diretamente não fui eu quem te deu, mas... é como se fosse um presente, para que comece bem sua jornada neste mundo.

Ter o contrato era sem dúvida primordial, mas não passava de ser apenas o passo inicial para o que viria depois. Uma tarefa ainda mais árdua esperava pelo garoto, e ela trataria de prepará-lo para aquele desafio em que estavam se embrenhando.

Sentados ao redor do monte de comida eles almoçaram. As frutas daquela ilha tinham um sabor peculiar, talvez fosse o clima diferente que proporcionava uma mudança também nestas coisas, provavelmente era isso. De qualquer forma, Koihime que não era dada a comer demais fez sua refeição e tratou de se encostar em uma árvore, sob a sombra do grande vegetal. Ela contemplava o mar enquanto repousava.

- Gosto do mar. Ele é tão belo. E apesar de instável, tem uma imponência notável, não?! É tipo... o vento. Ora é uma brisa leve, ora é uma ventania devastadora... a natureza é muito interessante. Eu acho! - completou, fechando os olhos por alguns instantes e aproveitando a brisa refrescante que circulava por entre as árvores - Depois que comer, descanse. Logo, vamos voltar a caminhar por aí...

Um cochilo básico fora o suficiente para auxiliar na digestão e dar uma força extra para o corpo. Durou apenas alguns minutos, já que Ruller pareceu nem ligar para a sugestão de descanço, e assim que acabou de comer arrumou uma forma de acordar a líder.

Koihime piscou umas três vezes seguidas para poder assimilar a imagem do menino parado a sua frente com a mão estendida. O mesmo valeu para ela registrar o que ele queria com aquele gesto.

Segurou a mão do pequeno que lhe impulsionou para levantar. De pé ela bateu nas vestes para livrá-las da areia do chão. Achou que mereciam um banho, depois daquilo tudo. Mas a praia em si ainda não era o lugar ideal para isso.

- Bem, vamos indo então... Se quiser levar algumas frutas, fique a vontade. O que não der pra carregar é dispensável, podemos deixar por aí que logo vem um animal comer. - ela escolheu frutas pequenas e leves que podia enfiar em bolsos vazios da roupa, nada demais para não se sobrecarregar - Vamos indo?!

Sem cerimônias Koihime entrou na floresta. Deu alguns passos e parou para escolher o melhor trajeto. Feito, tornou a caminhar. Não parecia apressada nem preocupada. Tanto que estava conseguindo seguir ao lado de Ruller, ao invés de deixá-lo pouco para trás.

- Precisamos ver depois como você vai aprender a usar isso aí, não é?! - falava sobre o contrato dos sapos - Podemos ver isso direitinho depois... - deixou a questão em aberto - Aqui. Vi esse pedaço no meio do mato e achei estranho. Pelos vestígios de parecer uma trilha improvisada, talvez algum grupo de pessoas ande circulando por essas bandas... Veja, o mato está cortado para abrir caminho. - indicou - Talvez não seja da nossa conta saber o que se passa por aqui mas... eu sou muito curiosa. - virou para o garoto, sorrindo.

Continuaram a caminhada. Sons de água corrente eram possíveis de se ouvir, isso fez a loira apressar o passo. Em instantes estavam diante de um rio largo o suficiente para passar um barco. Parecia bastante fundo também, inclusive a correnteza sugeria que em algum canto ali havia uma cachoeira.

Koihime se ajoelhou na borda. Apanhou um bocado de água e bebeu. Era um rio de água doce, e estava bastante fresca... Ideal para um banho... Olhou cobiçosa para a grande porção de água a sua frente. Dela para o pequeno Gennin parado ao seu lado. Tudo bem que ali se fazia uma relação de mestra e aluno, onde o respeito era peça principal... sem falar na importância dela como Hokage. Mas, ainda assim, ela era só uma menina... ele um menino... não se sentiria confortável... não é?!

- O que eu não daria pra tomar um banho... - comentou, olhando do garoto para a água e vice-versa - Se importa se... sabe?! - apontava para um lugar aleatório, sugerindo que ele não ficasse por ali para observá-la, afinal.

Obediente o pequeno Ruller deixou o local, voltando circular ali por perto, provavelmente poderia estar procurando um ponto ideal para ele mesmo se banhar ou algo do tipo. Quando se certificou que o menino estava longe ela se despiu. Amarrou o cabelo em um coque improvisado no topo da cabeça, para não molhar os fios, aí entrou na água.

O banho estava imensamente agradável e relaxante. A água fria refrescava o corpo e agia terapeuticamente nos músculos da kunoichi, que curtia aquele momento de olhos fechados. Era realmente fundo por ali, mas nada preocupante demais. E Koihime apanhava um punhado de água nas mãos para lavar a face, até começar a esfregar seu próprio corpo a fim de livrar-se da sujeira.

Não dava para estipular quanto tempo passou curtindo o banho, nem dava para se preocupar com o que acontecia ao redor, afinal ela nem parou algum instante para checar se alguém bisbilhotava ou não. Porém, uma movimentação ruidosa na floresta a despertou do transe.

Sobreaviso ela saiu rapidamente da água, tratando de apanhar suas roupas e entrar na mata do lado oposto ao barulho, lá se vestiu o mais rápido que pode, tendo apenas as próprias armas numa das mãos e os sapatos na outra. Nem foi preciso espreitar na direção do ruído, afinal o causador daquilo fez questão de se pronunciar em um tom audível. Era Ruller, voltava com algo para dizer...

- Tem certeza disso? - indagou saindo do meio das árvores enquanto posicionava as armas de volta no lugar - Bem... qualquer tipo de atividade clandestina nunca é bem vinda para um país. Mas... vem, me mostra onde é, vamos olhar isso melhor. - pediu.

Ruller a conduziu pelo caminho que traçou. Não era nada afastado do rio que corria, mas era suficientemente distante do local onde tinham parado, por isso nem perceberam nada da movimentação do grupo.

No lugar indicado os dois permaneceram escondidos, tentando identificar o que se passava por ali. De fato aqueles homens agiam na clandestinidade. Pareciam estar "importando" produtos roubados, porque todos tinham símbolos característicos do País das Ondas, um vizinho das Ilas Nagashi.

- Não dá pra ter certeza do que fazem... precisamos de mais informações. - estava bastante reflexiva, olhando tudo ao redor como se estivesse esperando a idéia cair ali na sua frente a qualquer instante - Ok. Já sei. Primeiro precisamos nos infiltrar, o que parece não ser muito difícil contra aqueles homens. - encarava Ruller com uma expressão séria - Depois, precisamos tentar obter alguma informação que comprove a situação. Isso eu talvez consiga com alguma facilidade. Agora, temos de ter precaução. Daqui não é possível ver tudo o que se passa por lá, então não tenho certeza se há algum shinobi entre eles, ou se são apenas homens sem o que fazer... - tornou a olhar o lugar, tentando abstrair mais informações - Vamos arriscar o modo mais simples de infiltração: Henge. - analisou Ruller dos pés a cabeça, tentando tirar alguma conclusão - ... Vamos nos transformar em dois deles. Aí tentamos uma abordagem discreta pra entrar lá. São muitos, acho que dificilmente notariam alguém diferente... Assim espero. - não era prudente subestimar o sistema de identificação dos inimigos. Mas, tudo bem, sempre poderiam contar com um plano de fuga eficaz, não é mesmo?!

Para sua sorte Ruller não era o tipo de garoto que buscava contestar. Digo, de alguma forma isso poderia até funcionar como um azar, afinal discutir uma idéia, um plano, era sempre bom para tentar tapar algum buraco ocasional não percebido pelo elaborador original, enfim.

Obediente o menino improvisou a imagem de algum estranho qualquer e tratou de seguir lá para baixo, onde os outros estavam. Na mesma Koihime executou o Henge. A imagem que a inspirou foi a de seu próprio pai: um homenzinho baixo, corpo "avantajado", cabelo loiro e ralo. Seu Henge era a cópia perfeita da imagem que fez na cabeça, inclusive os pequenos traços de sujeira e suor. Quando preparada ela desceu atrás de Ruller.

Ele seguiu adiante, entrando logo atrás de outros que embarcavam material, enquanto ela ficou por ali fingindo arrumar caixas. De esguelha ela percebeu um homem arrogante que circulava pelo navio. Ele não parecia ser do tipo que obedecia, mas sim dos que dava ordens. Era provavelmente o cabeça daquela tramóia.

Um apito soou e a maré de brutamontes se fez para embarcar no navio. Não tinha como escapar dali antes da embarcação partir, e Ruller estava lá dentro, não podia deixá-lo... Seguiu a pequena multidão e embarcou. O lugar era bem sujo e os homens fediam. Uma kunoichi mal preparada surtaria com aquilo, sem dúvida!

- Droga...!

- O que disse? - indagou a voz grave de um dos "companheiros".

- Folga, tô precisando duma folga. - ela respondeu, sem titubear.

- Vamos ter uma, tamo indo no País das Ondas pra pegar mais coisas. Disseram que lá a gente vai descançar.

- Uhum... - tentou ter um raciocínio rápido para se aproveitar do diálogo e extrair informações - Chefe já te pagou?

- Nada, só lá. - ele pareceu refletir - Por que? Já te pagaram? - o tom da voz pareceu ficar mais agressivo, e ele a encarava, até ela agitar a cabeça negativamente e se por a observar o mar lá embaixo, enquanto o navio se movia. Já estava mirabolando uma forma de escapar dali com Ruller, provavelmente ao anoitecer. - Quer saber? Tu é estranho... Não lembro de ter te visto antes. - ainda a encarava.

- VISTORIA! - gritou o comandante, a medida que já era possível ver o mar ali adiante, no fim do rio.

Todos os homens se postaram para o centro do navio, onde provavelmente estava o líder. Ela fez o mesmo, tentando não chamar atenção para si. Também, olhou ao redor procurando encontrar seu aluno. Para sua sorte ele cumpria com o prometido, não tinha saído do campo de visão. Enquanto isso, o próprio comandante circulava pelo navio, olhando um a um na cara daqueles homens. Matinha-se séria, o auto controle era de suas maiores qualidades.

- Você... Não lembro da tua cara, uhm uhm! - vociferava apontando o dedo na cara do homem que era Ruller - BAO BAO! - gritou alto. De algum lugar lá dentro da cabine veio um enorme e gordo homem. Era careca e imenso, dava pelo menos dois homens num só. Ele trazia consigo um grande scroll preso às costas, que tirou e estendeu para o líder. - Vejamos... Não te acho aqui nessa lista, parceiro. QUEM TROUXE UM CLANDESTINO? - gritou para os outros, ninguém respondeu nada só murmuraram aleatóriamente para negar qualquer envolvimento com o caso - E você, parceiro, o que...?! - tinha aproximado mais o próprio rosto do falso Ruller, até boquiabrir-se e arregalar os olhos para ele, como se tivesse percebido o truque - PEQUEM O INTRUSO! - apontava o dedo para ele. Foram descobertos.

O grandalhão Bao Bao puxou os punhos fechados para trás descendo-o com potência em direção a face do menino disfarçado. Seria um golpe certeiro, pois a capacidade de reação do garoto era pouca para aguentar aquele impacto... a kunoichi teve de agir. Escapuliu com velocidade para diante de seu discípulo, pondo os próprios braços sobre sua face para receber o impacto dos punhos do grandão. Inclusive, o impacto foi capaz de destruir o disfarce, revelando a própria Koihime depois daquela nuvem de fumo branco. A grande movimentação no barco indicava que estam encrencados, muito encrencados, todos os tripulantes iam tomar satisfações...

Segurava os punhos do tal Bao Bao, não confiando em sua força e sim no seu controle de chakra para suportar a pressão nos braços. O homem recebeu a descarga elétrica como se não fosse nada, apenas afastando-se para trás. No instante em que ele vinha para desferir um novo golpe, algo alconteceu. O brutamontes pôs as mãos nos olhos, quando um feixe de luz brilhou intenso. Os outros tripulantes fizeram o mesmo, exceto o Comandante que não parecia ter sido afetado por aquele Genjutsu simples.

Em algum lugar atrás dela Ruller se movimentava, ela percebeu. Só foi pega de surpresa quando viu o vulto dele passar ao seu lado, ao mesmo instante que outro dele estava ali atrás ainda... Um bunshin, será?! De qualquer forma, era perceptível e admirável a leveza nos passos do rapaz. Sem dúvida outro com menos percepção não notaria o truque. De qualquer forma, ela julgou que a esperteza dele teria promovido aquela fuga improvisada, e que quem estava atrás de si era algum falso qualquer. Portanto, poderia deixá-lo lá. E foi o que fez, escapando para o lado quando o Comandante ameaçou atacar o verdadeiro. Certamente ele também havia notado a fuga.

Com as mãos ágeis Koihime meteu a mão na bolsa especial de equipamentos, sacando um punhado de senbons, alguns deles com guizos. Atirou um punhado de seis contra o homem, imediatamente sacando mais seis com a esquerda, passando para a direita (sua mão de melhor coordenação) e atirando-as também. "Arte Ninja - Suzu Senbon no Genkaku", mentalizou o ninpou de ataque. O homem tinha uma capacidade de reação medíocre em relação à velocidade da Hokage. Sendo imediatamente atingido pelos golpes, tendo montes de agulhas cravadas no corpo e parando seu movimento de ofensiva contra Ruller, lá no topo.

O shinobi finalmente demonstrou suas habilidades. Com a mão aberta ele gesticulou um corte no ar na direção do Gennin. Koihime conhecia aquele movimento...

- Kaze no Yaiba! - um dominador de vento ele era!

Ela não soube como reagir, aliás nem podia porque tinha se distraído com estes movimentos a ponto de ter dois dos tripulantes em cima de si... Ruller teria que se defender só! E ela teria que se livrar daqueles homens... Seu cabelo tomou vida, ergueu e desceu cortando o ar sobre os corpos dos seus atacantes, cravando os fios loiros nas costas deles... Preocupou-se mais com aluno, lá em cima, do que consigo.

Ruller ainda não estava assim totalmente preparado para um conflito naquelas proporções, mas lutava bravamente para manter-se vivo... e matar. As atitudes do Gennin eram surpreendentes, até certo ponto, pois demonstrava que ele conhecia a si próprio muito bem, como deveria ser, a ponto de elaborar golpes eficazes e combos bem bolados.

Contudo, o ataque do líder da embarcação permitiu que a Hokage pudesse notar uma falha nas habilidades de seu discípulo: a defesa. Com um golpe estilo Fuuton certeiro em sua direção, Ruller esforçou-se para promover (com certeza) a melhor das defesas que tinha. Porém, seu vórtex Suiton não fora capaz de conter totalmente o ataque do oponente, provocando no menino um corte preocupante que lhe tomava parte do peito.

Ainda que ferido ele lutava. Usando da mesma estratégia que da outra vez, lançou tags explosivas contra o adversário levando-o a nocaute. Ela presenciou pela primeira vez um truque bobo de academia como Oiroke funcionar contra uma macharada de mente fraca. Aproveitando-se do instante o pequeno mesmo com o grande machucado atira-se contra um dos tripulantes e o prende numa cúpula de água, bradando para que a líder tomasse uma atitude previsível para completar a técnica.

- Raiton • RaiRyu Rendan! - bradou enquanto realizava com rapidez os selos de mãos.

O céu enegreceu por poucos segundos e um raio desceu de lá. Uma entidade imensa e relativamente disforme, mas semelhante a um bruto dragão. Ordenado pela conjuradora a criatura de eletrecidade rompeu em linha reta, derrubando pelo menos uns sete homens que ficaram no caminho e ainda complementando o jutsu Suiton de Ruller. A criatura retornou e parou atrás da líder, aguardando mais... Quando na menor manifestação de movimento dos homens de pé, ela tratou de postar-se diante de seu aluno para defendê-lo.

- Vá, fuja pela água... Eu cuido do resto! Você não pode ficar, está ferido! - ela se preocupava, mesmo que de alguma forma soubesse que ele refutaria sua ordem, mas não custava nada tentar...

Como era sabido o menino pelo menos desta vez não obedeceria às ordens. Algo previsível, mesmo que imprudente. Então significava que ela teria que ceder ao que não queria fazer, e aí eliminar logo todos de uma vez por todas. Uma demora significativa na sua reação poderia custar maior risco ao seu protegido.

Ruller citou as normas shinobi - que bom lembrar delas - e aí tratou de demonstrar mais de sua coragem e força de vontade. Novamente veio dele uma demonstração de Genjutsu, arte ninja tão aprimorada pela loira. Ainda era um golpe potencialmente fraco e que apanhava poucas pessoas duma vez. Mas era bom que ela visse tais manifestações dele, assim poderia buscar no futuro completar as pequenas lacunas que detectava, enfim. Uma parte dos marinheiros os encarava, a outra parecia entorpecida e inerte.

- Amador. Veja como trabalha uma mestra.

Ela olhou rapidamente para trás, de esguelha, encarando-o com um ar de audácia e desafio. O imenso dragão elétrico se dissipou no ar, ao passo que a kunoichi apanhou algo preso em sua cintura. Girou o objeto cilindrico e metálico entre os dedos ao erguer o braço, parando com a flauta bem abaixo de sua boca. Seus dedos tocaram com leveza aquela superfície fria do metal, ela fechou os olhos e soprou... Era uma melodia rápida, de notas agudas e um ritmo ligeiramente agressivo, digno de trilha sonora de uma cena de ação.

Os marinheiros pareceram confusos, assumindo feições de desespero e terror quando olharam para o céu. As nuvens estavam fechadas e escuras, até que feixes grandes de luz romperam os céus, grandes bolas de fogos desciam a toda velocidade rumo ao navio, caindo entre todos eles e botando fogo no transporte... Era tudo uma ilusão, mas os efeitos psicológicos pareciam devastadores. Homens gritavam, corriam, rolavam pelo chão. A maioria deles optou por um método suicida de atirar-se ao mar, enquanto outro aos poucos começavam a agonizar no chão, os olhos regalados e vidrados de horror.


A música parou. Koihime abriu os olhos e contemplou seu feito. Um sorriso sádico surgiu em seu rosto. Estava tudo acabado, enfim. Ela girou nos calcanhares e deu de ombros para Ruller, sorrindo meigamente como se nada tivesse acontecido. Segurou nos ombros dele e o girou para o outro lado, a fim de fazê-lo não olhar para aquilo.

- Vem, eles devem ter curativos em algum lugar lá dentro. Precisamos cuidar disso aí. - foi conduzindo-o para dentro do gabinete do comandante.

Lá dentro ela improvisou um curativo simples. Não tinha realmente nenhuma aptidão para jutsus médicos, mas pelo menos as habilidades de fuuin-nin permitiram o uso de uma técnica especial, capaz de segurar a vida de Ruller circulando em suas veias até que ele tivesse cuidados melhores. Ela teve que improvisar também uma rota. Tendo como orientação o vento e o sol ela tentou deixar que o barco seguisse para um rumo aleatório... o destino era desconhecido, e por não saber onde estavam, não dava para arriscar conjurar Tsubasa e levá-lo a exaustão sem resultados... Tinham que encontrar terra firme e, que interessante, a aventura estava realmente tomando um rumo mais imprevisível, e apesar da idéia ela sentia-se mais instigada com isso.

Ponto positivo: Ruller não era dos facilmente impressionáveis. Demonstrou isso por se manter natural mesmo diante daquela demonstração caótica de sua mestra. Isso era bom, significava então que ele tinha "estômago" suficiente para suportar situações adversas as quais um shinobi possivelmente tem de encarar.

Fora isso, ela tinha abstraído daquela situação outros fatores positivos e desconhecidos de seu aluno, como a força de vontade, a agilidade na elaboração de estratégias, sejam de fuga ou de incapacitação dos oponentes, e mesmo que em menor intensidade, o trabalho em equipe. Contudo, como uma boa mestra ela também tinha feito a análise do que era negativo, comprometendo-se particularmente a tratar de trabalhar nisso, assim que tivessem tempo hábil.

De forma esperta e eficiente Ruller detectou o problema que tinham em mãos, a falta de localização e rumo, daí ele mesmo tratou de encontrar uma forma de identificar a rota que seguiriam, fazendo até uso de um ninpou simples, mas bem útil para o momento. Ao fim de sua contribuição sugeriu que descansassem, ele mesmo achou um canto folgado por ali onde se ajeitou para repousar. Merecia, sem dúvida. E também precisava. A viagem ainda não tinha acabado e aquele ferimento poderia trazer problemas, caso ele se mantivesse tão ativo quanto antes.

- Vejo que já andou aprendendo o que eu disse. Um shinobi que saiba se localizar, sem dúvida nunca entrará em conflito com o espaço a sua volta. Ponto pra você! - exclamou com entusiasmo - Nah, pode descançar. Não se preocupe comigo, estou bem. - sorriu para provar (e comprovar) que continuava numa boa.

Koihime aproveitou o sono do menino para bisbilhotar o lugar e imobilizar os corpos remanescentes em algum canto. Tirou dali as informações necessárias para efetuar um registro do crime cometido por eles, aí foi sentar-se na proa, onde ficou contemplando o horizonte.

A noite já tinha caído quando ela conseguiu conduzir o barco para encostar na praia. Com algum esforço conseguiu jogar a pesada âncora ao mar. Foi até o gabinete onde Ruller dormia, aí abaixou-se perto dele e tocando-lhe o ombro tentou acordá-lo.

- Vamos?! Está na hora... Já estamos perto de casa. - tinha seu melhor sorriso no rosto para acordá-lo, certamente um sinal de que afeição entre ambos já tinha se estabelecido de forma a criar algum laço da parte dela.

Saiu e lá fora começou a arrastar o corpo inerte do comandante para perto da proa. Esperou Ruller acordar e sair. Levariam o corpo do chefe até Konoha, onde seria analisado por ninjas médicos capazes de extrair informações das mentes dos mortos. Também entregariam um relatório aos policiais da vila assim que chegassem, para que pudessem se corresponder com outra autoridades responsáveis por casos do tipo.

- A noite acabou de cair, então ainda temos muito tempo para viajar. Pronto?! Vamos lá! - pos no ombro o corpo do homem, aí saltaram e correram adentrando na mata característica do país do fogo...