A chave rodou na fechadura destrancando a porta. Quem a empurrou foi Kimimaro que colocou a cabeça mascarada dentro da divisão constando que esta estava vazia. Entrou então atirando o seu saco simples para um canto. O quarto era composto por duas camas separadas e uma segunda divisão que o rapaz reparou ser uma casa de banho. Nas paredes estavam alguns quadros alusivos ao País dos Demónios. A janela, mesmo em frente à porta, tinha vista para a bela maresia e dava para ver os navios que iam chegando e partindo dos quais saiam muitas pessoas mascaradas.
«Isto vai ser grande» pensou o rapaz para si. Ainda estava sozinho mas certamente que mais cedo ou mais tarde alguém lhe iria fazer companhia e corria o risco de não conhecer a pessoa em questão pelo que era crucial manter-se mascarado e quiçá teria de dormir com um olho aberto de modo a evitar que a sua identidade fosse comprometida. Nada que não estivesse habituado enquanto espião.
Abriu a janela sentindo o vento trazido pela maresia a invadir o quarto com o seu cheiro salgado característico. Ao longe era possível ouvir as irritantes gaivotas a guinchar enquanto caiam a pique no mar caçando peixes usando os seus bicos como armas de morte. O rapaz sentou-se no parapeito virado para a porta do quarto com uma kunai de treino na mão. Não passava de uma kunai de treino de madeira pintada de cinzento para parecer letal. Esperava sentado pacientemente à espera do seu ou da sua companheira de quarto pronto a atirar-lhe a kunai falsa à testa. Não tinha intenções de matar ninguém, pelo menos para já, apenas de brincar um pouco com a situação.

Aquele personagem loiro era tudo o que Kimimaro não imaginara. Parecia tão desinteressante ao ponto de levar com a kunai na testa.
«Mas o que raio é isto?» pensou o Kaguya para si mesmo suspirando pesadamente. O desconhecido aproximou-se dele removendo a madeira da cabeça e esticou um dedo para o buraco na testa na máscara do rapaz.
- Tens aqui outro olho? bem, não interessa... O meu nome é Cloud, e tu? Como te chamas?
Quando Cloud fez aquele movimento um pequeno jacto de água molhou-lhe a cara. Dentro da máscara uma pequena mangueira estava ligada a uma bomba manual que Kimimaro apertara fazendo a água sair disparada directamente à cara do rapaz loiro. Kimimaro soltou uma gargalhada por baixo da máscara.
- Que achas? - perguntou divertido olhando a cara de totó do seu interlocutor.

Sim, de facto o rapaz era desinteressante, ou pelo menos era isso que dava a entender. Não tinha ainda pensado num nome para interpretar a sua personagem e curiosamente o primeiro que se lembrou foi de uma personagem sobre a qual tinha lido uma vez num livro, um tal de Hiroshi do País do Som, um género de herói local numa aldeia qualquer, conhecido pelos seus famosos ramens.
- O meu nome é Hiroshi - respondeu o Kaguya sem grande entusiasmo pelo recém chegado - De Otogakure no Sato - continuou na esperança de que Cloud lhe revelasse a sua proveniência.
O rapaz parecia tão ingénuo que Kimimaro não pensou, nem por um segundo, que este lhe poderia estar a transmitir informação falsa.

O rapaz era algo ... agradável. Totó, mas ainda assim agradável. De Iwagakure, uma vila que Kimimaro não conhecia para além de nome.
O rapaz perguntara-lhe o que fazia ali enquanto arruma os seus pertences no baú aos pés da cama.

- Sim, simplesmente isso. Mas se queres que te diga nem me apetecia muito estar por cá. Vim apenas para ... passar o tempo.

Se Cloud pudesse ver por baixo da máscara de Kimi realmente via o seu aborrecimento. Correra as redondezas e não tinha encontrado nada de jeito que se passasse.

- E tu? Só para participar no evento ou vieste vender essa espada? - perguntou o rapaz apontando para a espada enorme que o rapaz colocara ao lado da cama - É que eu vim para ver se vendia a minha - continuou o Kaguya apontando para a espada gigante que também trouxera de uma loja de partidas, bastante real por sinal.

Desceu do parapeito passando os dedos pelo cabo.

- Sabes, isto é uma herança de família - pegou na espada pelo punho - Já viste alguma assim tão bela? - e mal acabou de questionar o loiro atirou a espada a rodopiar pelo ar como uma arma mortal que dava a sensação de ir decapitar Hiroshi mesmo sendo de borracha.

- Ah, e já agora, onde anda a tua bandana? - questionou o jovem naturalmente.

Embora Cloud não visse Hiroshi sorriu por baixo da máscara. Por pura sorte ou simplesmente por reflexo o rapaz loiro baixou-se a tempo de se esquivar da arma arremessada pelo ar.
Entretanto uma voz soou pelos altifalantes espalhados pelo hotel indicando onde o grande evento de Haloween se iria passar. Depois disso Cloud questionou o seu companheiro de quarto se deveriam ir.

- Muito bem - disse Kimimaro caminhando para a porta e rodando a maçaneta - Vamos lá ver o que nos espera.
E por trás da negridão da máscara Cloud poderia ver um leve brilho de uns olhos verdes.